Paixão Pelo Teatro

A grande paixão do Joaquim, um português de origem lusitana, é o teatro. Ele é concluinte de um curso de interpretação e já participou de várias peças, mas todas elas como disciplinas do curso. Sua grande oportunidade ainda não havia chegado. Mas não por falta de esforço. Ele já havia visitado todas as companhias de teatro, viajou a outras cidades, esteve em todos os estúdios de televisão para tentar um papel, uma pontinha, uma figuração numa novela, mas não está fácil. A resposta é sempre a mesma: "nosso elenco está completo", "no momento não estamos contratando ninguém", essas desculpas. Mas ele é muito persistente. No dia seguinte, na outra semana, no outro mês lá está ele de novo, mais uma tentativa, mais uma conversa, mais uma esperança. "Quem sabe não é hoje?"

Eis que, um dia, surge a oportunidade de realizar o seu grande sonho. Ele é convidado, quer dizer, de tanto insistir ele conseguiu uma pontinha numa peça que será apresentada no principal teatro da cidade. Ele recebe o texto com a sua fala - uma fala. Não é exatamente o papel principal. Também não se pode dizer que é um papel secundário. Na verdade, ele tem uma entrada em cena e uma fala. Numa certa hora ele deve entrar e falar: "Aqui estou eu, minha rainha." É tudo. Ah! Que felicidade! Um grande astro vai surgir na constelação... A partir desse momento, Joaquim passa todo o tempo decorando o texto, testando inflexões, exercitando a voz, ensaiando a marcação, fazendo laboratório, essas coisas todas que os grandes astros e estrelas costumam fazer. Sua estreia vai ser um estouro! Ele não vê a hora de adentrar o palco e apresentar-se diante de uma plateia ávida por conhecer o seu grande talento. E chega o grande dia: a estreia. Lá está o Joaquim devidamente caracterizado a espera da hora de entrar em cena. Desde o primeiro minuto, ele fica bem pertinho do diretor. Colado nele.

— É agora? Entro? — pergunta ele logo no início do primeiro ato.

E o diretor:

— Não. Agora não. Espere.

E Joaquim, impaciente, pergunta a cada instante:

— Já entro?

— Agora?

— É minha hora?

E fica a torrar a paciência do diretor. E haja paciência...

— Vou?

— Comé-quié? Entro ou não entro?

No finzinho do terceiro ato o traidor mata o rei. Logo depois, deve entrar o nosso grande astro. E o diretor avisa:

— É agora. Vai.

Ele entra em cena e a rainha, a principal personagem representada por uma grande estrela, lá está a esperar a fala dele para dar sequência ao espetáculo.

O Joaquim finalmente diz a sua tão esperada e ensaiada fala:

— Aqui estou eu, minha rainha!

— Chegaste tarde! Mataram o rei!

O nosso grande astro faz uma reverência e completa:

— Eu bem que poderia ter evitado essa tragédia, minha rainha. Há muito tempo que eu queria entrar, mas aquele gajo ali não deixava.

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