No confessionário 5
- Padre, o senhor soube que o Mário morreu?
- Que triste, filho, o que foi que aconteceu com
ele?
- Ele ia para minha casa e estava vindo a toda
velocidade. O Mário sempre foi de correr muito.
Quando ele ia chegando e tentou parar, os
freios falharam e o carro chocou-se do jeito
que vinha na mureta la em frente. O Mário foi
lançado pelo teto solar, voou uns 10 metros, e
acabou se arrebentando contra a janela do meu
quarto, no segundo andar.
- Ave Santíssima, que modo horrível de morrer!
- Não, não, padre! Ele sobreviveu a isso. Ele
acabou no chão do meu quarto, todo arrebentado,
sangrando e coberto de vidro. Foi então que ele
tentou se levantar e pegou na maçaneta do meu
guarda-roupa. É um guarda-roupa antigo, todo em
jacarandá, pesadíssimo. Quando ele estava se
erguendo, o guarda-roupa, que estava com um pé
defeituoso, desabou em cima dele amassando tudo
quanto foi osso do corpo dele.
- Pobre Mário! Que morte terrível!
- Não, padre, isso machucou muito mas não matou
ele. Com muito esforço, ele conseguiu sair de
baixo do guarda-roupa e engatinhou até a sacada
que fica no topo da escada do hall. Ali ele
tentou se levantar, apoiado no corrimão, mas o
peso dele quebrou o corrimão e ele desabou até
o chão do hall lá embaixo. Dois paus do
corrimão quebrado ainda caíram sobre ele e o
transfixaram.
- Mas que horror se morrer assim!
- Mas não foi isso que o matou. Ele conseguiu
arrancar os dois paus do corpo, engatinhou até
a cozinha e tentou se levantar apoiado no
fogão. Sem querer pegou na alça de uma panela
que estava fervendo água e derramou a água
fervendo por cima dele, queimando toda a pele.
- Que morte sofrida, Mãe do Céu!
- Não, não, ele conseguiu sobreviver a isso. Mas
lá estava ele caído no chão, numa poça de água
fervente, quando viu o telefone na parede. Deve
ter pensado em pedir ajuda. Apoiou-se na parede
e tentou alcançá-lo. Mas, em vez do telefone
ele meteu a mão na caixa de fusíveis e zap!
10.000 volts passaram por ele.
- Ave Maria! Que fim terrível!
- Não, padre, isso ainda não matou ele. Ele...
- Espere aí, filho! Afinal, como foi que ele
morreu?
- Padre, eu atirei nele.
- Você ficou maluco, filho? Por que você atirou
no pobre coitado?
- Caramba, padre, o cara estava destruindo a
minha casa!