Colírio Milagroso

Joãozinho, ceguinho de nascença, ia fazer dez anos. Faltavam poucos dias e, uma tarde, o pai de Joãozinho chega pra ele e diz:

— Meu filho, mandei vir dos Estados Unidos um colírio que vai curar a sua cegueira. É um remédio maravilhoso, milagroso. Só uma gotinha em cada olho e você vai poder enxergar! Joãozinho ficou todo feliz e disse:

— Que bom, pai. Agora eu vou poder saber como é você, como é a mamãe, meus amigos, o azul, o feio, as meninas, Nossa Senhora, as flores, tudo! Que dia o remédio chegará?

— Eu te aviso. — disse o pai.

E todo dia o pai chegava do trabalho e Joãozinho corria pra ele, aflito, batendo nos móveis, gritando:

— Chegou, papai? Chegou?

No dia 28 de março, o pai chegou em casa, aproximou-se do filho ceguinho e balançou um vidrinho no ouvido dele.

— Sabe o que é isto, Joãozinho?

— Sei, sei! — gritou o menino. — É o colírio! É o colírio!

— Exatamente, meu filho. É o colírio.

Que bom! — disse Joãozinho.

— Agora eu vou poder ver as coisas, saber se eu pareço com você, saber a cor dos olhos da mamãe, usar meus lápis de cores, ver os pássaros, o céu, as borboletas. Vamos, papai, pinga logo este colírio nos meus olhos!

— Não. Hoje, não — disse o pai.

— Mandei chamar seus avos, todos os nossos parentes; eles chegam no dia de seu aniversário, quero pingar o colírio com todo mundo aqui em sua volta...

E Joãozinho disse meio conformado:

— É. O senhor tem razão. Quem já esperou dez anos, espera mais uns dias. Vai ser bom. Aí eu vou poder ficar conhecendo todos os meus parentes de uma vez.

E foi dormir, mas não dormiu. Passou a noite toda sofrendo, rolando na cama, pra lá, pra cá. Quando foi no dia seguinte, dia 29 de março, cedinho, ele acordou o pai.

— Papai, pinga num olho só. Num olho só. Eu fico com ele fechado até a vovó chegar, juro!

O pai disse:

— Não. Aprenda a esperar!

— Mas, papai, eu quero ver a vida, papai. Eu quero ver as coisas.

— Tudo tem a sua hora, meu filho. No dia do seu aniversário você verá.

Joãozinho passou sem dormir o dia 29, o dia 30 e o dia 31.

Quando foi ali pelas dez horas da noite ele chegou pro pai e disse:

— Papai, só faltam duas horas para o meu aniversário. Pinga agora, papai.

O pai pediu que ele esperasse a hora certa. Assim que o relógio terminasse de bater as doze badaladas, ele pingaria o colírio nos olhos de Joãozinho. E Joãozinho esperou.

A meia-noite, toda a família de Joãozinho se reuniu no centro da sala e aguardou o final das doze badaladas. Joãozinho ouviu uma por uma, sofrendo. Bateram as dez, as onze e as doze!

— Agora, papai. Agora! O colírio.

O pai pegou o vidrinho, pingou uma gota num olho. Outra no outro.

— Posso abrir os olhos? — perguntou Joãozinho.

— Não! — disse o pai. — Tem que esperar um minuto certo, senão estraga tudo. Vamos lá: Sessenta, cinquenta e nove, cinquenta e oito, cinquenta e sete — e foi contando — e Joãozinho de cabecinha erguida esperando — vinte e seis, vinte e cinco, e foi, quinze, quatorze — e toda a família em volta esperando — e dez, e nove, e oito, e sete, e seis, e cinco, e quatro, e três, e dois e um e já!

O menino abriu os olhos e exclamou:

— Ué. Eu não estou enxergando nada!

E a família toda grita:

— Primeiro de Abril!

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